Adnor Pitanga

André Klotzel

Cláudio Costa Val

Lisiane Cohen

Roman Stulbach

Wagner Assis


ROMAN STULBACH
diretor de Missa do Galo

Qual o seu envolvimento com Machado de Assis?
Dentre tantos textos possíveis, por que você optou por adaptar A Missa do Galo?
O que norteou o trabalho de adaptação?

Leitor assíduo de brasileiros, Machado certamente foi um de meus preferidos. Como estudante de cinema (o filme é de 1973. Eu já havia terminado o curso de cinema na ECA-USP em 1970, mas continuava ligado à Escola), sempre me interessou a adaptação literária: estudei e/ou acompanhei de perto roteiros de meus professores na época: Roberto Santos em Matraga, Paulo Emilio Salles Gomes com o roteiro de Capitu de Saraceni, Maurice Capovilla buscando, no A urna de Walter J. Durst, a fonte inicial para o seu Profeta da fome e outros.

A idéia de filmar Missa do Galo foi basicamente de um exercício de adaptação literária, mesmo que no início dos conturbados anos 70. Eu vinha da montagem de Bang Bang de Andrea Tonnacci, de meus próprios curtas Por exemplo Butantã e Steiberg, da montagem de boa parte dos curtas, de então, da Escola, quase todos buscando inovações na linguagem, das primeiras pornochanchadas, dos primeiros filmes "marginais", das discussões acaloradas sobre cinema na escola, na "boca do lixo", nos botecos... Para quem assistia e participava das rupturas, de então, na linguagem cinematográfica, escolher Machado e tentar ser fiel às suas sutilezas, acho que foi um desafio.

Missa do Galo é um dos contos de Machado que mais apaixonam qualquer jovem pequeno burguês – o erotismo contido entre duas gerações na mesma sociedade: sutil, meio irônico, sem tragédia porque escondido ou imaginário. Um retrato do dia-a-dia de uma recém-nascida classe média brasileira, seus costumes, sua casa, seu tesão reprimido quase realizado. A intenção do filme foi de criar um minirretrato fiel da sociedade pequeno burguesa carioca de Machado de Assis: a decoração de época sem esquecer os elementos kitch, o comportamento contido mas insinuante dos personagens. Um exercício de roteirizar, produzir e filmar uma pequena conversação (como o próprio Machado chamou este momento) entre um jovem e uma senhora, numa situação de privacidade, onde vai aflorando, sutilmente, o desejo.

O roteiro, feito com a importante colaboração da Prof. Gilda Rocha de Mello e Sousa, teve apenas uma opção polêmica: a inclusão de um beijo entre os dois personagens. O beijo, que não está descrito em Missa do Galo, é real, mesmo que sonhado pelo jovem personagem, em Uns braços. Ambos os contos tem personagens de características idênticas, como se fossem complementares. O leitor, hoje e na época de Machado, podia muito bem, se assim o desejasse, optar pela relação física entre os personagens. Professores de literatura importantes, como Antonio Cândido e Afrânio Coutinho, que viram o filme na década de 70, aprovaram a adaptação.